Adeus, Falou & Disse!


Quando comecei a fazer meu blog, o internETC., no já distante ano de 2001, a internet era um lugar diferente do que é hoje. Tinha menos gente, é lógico, e tinha também menos facilidades. O aparecimento do Blogger, ferramenta para edição de blogs muito completa mas simples de usar, foi o primeiro passo para a expansão deste universo de idéias; no entanto, mesmo esta ferramenta tão rica tinha os seus poréns. Um deles: não aceitava fotos. Quem quisesse ilustrar os posts era obrigado a encontrar um servidor à parte, subir as imagens por FTP e criar tags, no texto, apontando para aquela imagem. Usava-se muito, também, descobrir imagens já hospedadas em algum lugar, e para lá dirigir os apontadores. De uma forma ou de outra, porém, isso implicava um conhecimento, ainda que mínimo, de HTML, a linguagem de bastidores da web.

Outra coisa que não existia: caixa de comentários. Essa foi uma ferramenta que surgiu porque todos, blogueiros e usuários, chegaram à conclusão mais ou menos simultânea de que o diálogo era essencial à vida dos blogs. Alguns voluntários começaram, então, a desenvolver caixas de comentários para si mesmos e para os amigos. Mas fazer uma caixa dessas exigia bem mais do cidadão do que subir uma foto: era preciso ter bons conhecimentos de programação e acesso livre a um servidor.

Os primeiros tempos das caixas de comentários foram um caos. Alguém criava uma na Califórnia, com capacidade folgada para, digamos, cem usuários, e logo ela estava espalhada pelo mundo, pendurada em mais de mil blogs. O resultado é que ou o sistema passava mais tempo fora do ar do que funcionando, ou os abnegados que construíam tais caixas ficavam falidos pelos custos de servidor, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Lembrem-se de que ainda não existia Paypal, e que rachar os custos era uma dificuldade. Vi muitos bons sistemas nascerem, passarem por este ciclo e morrerem; usei vários deles, e permaneço grata a seus criadores.

Os meus problemas de caixa de comentários acabaram quando Fábio Sampaio, brasileiro radicado em Nova York, desenvolveu o Falou e Disse, um sistema ágil, limpo, facílimo de usar. Escolado pelo que já vira acontecer, Fábio distribuiu o F&D por poucos blogs, a quem sempre prestou assistência e acudiu em casos de complicação, num trabalho sempre voluntário, gratuito e da melhor qualidade.

No começo dessa semana, vítima de um ataque de hackers para o qual não estava preparado – nasceu, afinal, numa época em que, como diz o Fábio, a gente ia para a internet de pés descalços, para brincar na areia e tomar sol -- o F&D teve, enfim, que ser aposentado. Foram nove anos de excelentes serviços prestados, acumulando um arquivo de mais de 30 mil comentários.

A qualidade do despretensioso trabalho do Fábio pode ser medida ao longo da semana, que passei revirando a rede em busca de substituto. As caixas de comentários de hoje são mais robustas e cheias de defesas, oferecem gracinhas de toda sorte, permitem aos usuários expor carinhas e imagens, mas nenhuma tem a simplicidade e a elegância do velho Falou & Disse, a prova cabal de que, muitas vezes, menos é mais. Ele vai fazer muita falta.

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Chegou ao mercado brasileiro, na terça-feira, o Samsung Galaxy S II. A julgar pelas resenhas dos sites especializados do exterior, o Galaxy II é o Rei da Cocada Preta no reino Android: comparado a ele, não tem para mais ninguém. Já estou com um em mãos. É um aparelho interessante – finíssimo e muito leve, com uma tela deslumbrante, tanto em tamanho quanto em nitidez. Parece mais um mini tablet do que um maxi smartphone.

Depois de brincar um bocado, conto a vocês se o oba-oba lá de fora se justifica. 


(O Globo, Economia, 2.7.2011)