Qual é o problema com as monografias?

Não sei como funciona a orientação de trabalhos de conclusão de cursos de graduação em universidades do nosso país. Não freqüentei nenhuma delas e ainda não sou professor de nenhuma delas. Procurei me informar e não encontrei nada, como sempre. Mas, uma coisa chamou-me atenção: cinco estudantes consultaram-se, por “e-mail” é claro, se podia orientar suas monografias. A minha dúvida é se o estudante pode ser orientado por um professor de outra instituição de ensino!. Acho que não.

O motivo alegado por esses estudantes foi a falta de dinheiro para pagarem aos professores orientadores, quando encontram. Normalmente, não conseguem arrumá-los porque andam sobrecarregados (ou fogem dessa responsabilidade). Um deles afirmou que foi aprovado nas demais matérias do curso, há cinco anos, e até hoje não possui o Diploma porque não “defendeu a tese”. Por isso ele opera no mercado informal.

É verdade que a monografia é interessante porque permite ao aluno, no fim do curso, a oportunidade ímpar de comprovar a maturidade intelectual, teórica e social que adquiriu ao longo de alguns anos de estudo na universidade. Isso se processa através de um documento, por escrito, que faz sobre um determinado tema, resultante de rigorosa pesquisa científica individual (que pode ser pura ou aplicada), orientada por um docente. Nesse trabalho predomina, essencialmente, a reflexão, contribuindo, dessa forma, para uma área específica de conhecimento.

No entanto, isso não pode servir de pedra de tropeço a ninguém. É muito difícil que, neste início do Século XXI, ainda tenhamos que abordar um problema como esse, algo que deveria ser superado, num Estado dito democrático e de direito, que diz ter a educação como uma de suas prioridades.

Para começar, nas grandes universidades, nenhum professor recebe adicional no seu ordenado por cada “cabeça” que orienta e nem por isso cobra do aluno. Ele já está enriquecendo o seu currículo como orientador, isso sem contar com as publicações que podem surgir desses trabalhos. E, segundo, nenhum estudante deixa de se formar por falta de orientador.

Assim, torna-se imperativo uma posição das magníficas autoridades da área da educação um melhor planejamento contra esse mar de injustiças. Caso contrário, para além de retardar o ingresso no mercado de profissionais, com prejuízos para o próprio país e entrave o real do progresso do estudante/profissional, coloca em xeque o próprio sistema de ensino superior.

É bom lembrar que o país deposita grande expectativa aos graduados que são pessoas, a princípio, com melhores condições intelectuais e técnicas para resolverem os problemas do nosso povo. Quanto maior for o número deles no mercado, isso ajuda a acelerar a conquista da tão sonhada autonomia. Só dessa forma poderemos desenvolver uma identidade sólida e socialmente autêntica.

Se, por ventura, não há professores, com dedicação exclusiva, em número suficiente, que a monografia passe a ser opcional, uma vez que a própria universidade prepara diferentes perfis de profissionais. Não custa nada lembrar que a missão universitária é algo que se reconceitua a cada época. O papel da Universidade deve ser discutido dentro da própria universidade. Ninguém deixará de ser bom profissional por não ter feito e defendido a monografia, principalmente num país que não faz pesquisa nem extensão universitária, apenas o ensino, embora entenda que, a monografia, temperaria melhor a refeição.